terça-feira, 30 de setembro de 2025

A Bandeira do Elefante e da Arara

A Bandeira do Elefante e da Arara 


Trazendo aqui A Bandeira do Elefante e da Arara, de Christopher Kastensmidt, publicado pela Editora Avec em 2025, onde traz onze novelas em que a voz narrativa busca misturar o épico e o folclórico. 

A obra privilegia a construção e as referências folclóricas ao imaginário brasileiro e isso é seu maior acerto, pois o livro não se apresenta como uma fantasia distante, mas como uma aventura que nasce de nossas próprias raízes.

A sensação inicial é a de que o RPG aqui não apenas convida a rolar dados, mas a caminhar pela cultura nacional, onde mitos e personagens se tornam companheiros de jornada. 

O enredo tem ares de um epopeia antológica, mas também guarda certa leveza na narrativa que faz com que o leitor sinta-se parte da descoberta — um explorador curioso diante de um território mágico. Destaque? Adorei as onze histórias mas, "A ameaçante aparição da Mula sem Cabeça" e "O catastrófico final das façanhas brasileiras de Gerard e Oludara" são os meus preferidos. 

A escolha de um protagonista estrangeiro como Gerard Van Oosy permite que tanto o autor quanto o leitor abordem o Brasil com um olhar de descoberta e fascínio, sem o peso de uma perspectiva nativa já integrada ao cenário. 

Recomendo demais a nova edição de A Bandeira do Elefante e da Arara que brilha como peça de criação de universo — é inspiradora, sensorial e ideal para quem quer transpor o folclore e a história brasileira para os jogos de mesa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Crônicas de Dragonlance - Dragões do Alvorecer da Primavera

Dragões do Alvorecer da Primavera 

A primavera se anuncia como a estação do renascimento. É quando a rigidez do inverno se dissolve e cede espaço ao despertar da renovação.

Em Crônicas de Dragonlance – Dragões do Alvorecer da Primavera (1985) esse mesmo movimento se repete. O título já carrega a idéia de recomeço: um “alvorecer” que não pertence apenas à natureza, mas ao próprio espírito de Krynn, em sua luta contra as forças dracônicas de Takhisis. Após o inverno da guerra, os companheiros de Solace avançam em direção ao incerto, guiados por coragem, amizade e pelo vislumbre de esperança que insiste em não se perder de vista.

Tanis e Laurana se veem diante de escolhas que moldam destinos; Raistlin carrega sua ambição como uma chama frágil, pronta a crescer ou se apagar; Caramon, Flint e Tasslehoff lembram que o riso e a lealdade podem ser o alicerce até mesmo nas batalhas mais sombrias. 

Assim como a primavera rompe o silêncio do inverno, esses heróis se erguem contra a escuridão, lembrando-nos que a vida sempre encontra um caminho para renascer.

Em Dragões do Alvorecer da Primavera, Margaret Weis e Tracy Hickman trouxeram para a narrativa um canto de resistência. É um lembrete de que por mais densas sejam as trevas, sempre haverá auroras de glória — e nelas, a promessa única de esperança, renovação e fé.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Crônicas Dilapidadas

Crônicas Dilapidadas 

Impressões de leitura – Crônicas Dilapidadas 

Leitura beta finalizada de Crônicas Dilapidadas e a sensação é de ter viajado por um universo riquíssimo, onde mitologia tupi-guarani, sertão e fantasia épica se entrelaçam com deuses, criaturas do folclore e reinos distantes. 

Os personagens — Kael, Makuna, Holdran, Brumael — são carismáticos e conduzem bem a jornada contra Faeer-wa, a entidade ancestral que ameaça o mundo de Palmas.

A estrutura a narrativa em capítulos lembra um pouco o estilo de As Crônicas de Gelo e Fogo. O resultado é um ritmo variado que alterna batalhas intensas junto com diálogos e momentos de reflexão mitológica. Um dos pontos altos é o worldbuilding, capaz de unir cosmologia indígena e criaturas do folclore como Curupira e Teju Jagua.

O autor Leandro Sarnik mistura registros, expressões populares e ditos nordestinos que convivem com passagens de tom épico e poético. Destaque também para a arte belíssima da capa feita pelo ilustrador Gustavo Garcez

Tematicamente, a obra se ancora na ancestralidade, resistência cultural, preservação ambiental, a tensão entre divino e humano e ao uso predatório da tecnologia. Esses elementos emergem de forma natural, reforçando a potência crítica do texto.

Enfim, Crônicas Dilapidadas é uma fantasia promissora que alia criatividade, identidade cultural e uma ambição narrativa. Com alguns ajustes na revisão obviamente, a obra tem tudo para agradar os fãs de literatura fantástica. 

Entaão vamos aguardar por esse futuro lançamento, pois com certeza será algo bem diferente e interessante. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Maretenebrae: O Flagelo de Denerssus

Maretenebrae 2 - O Flagelo de Dernessus 

Publicado pela Avec Editora em 2024 e escrita por L.P. Faustini - este segundo volume amplia o universo iniciado em A Queda de Sieghard e mergulha ainda mais fundo na intrincada trama de poder, profecias e sacrifícios.

O início transporta o leitor ao passado, revelando o drama de Marcus II diante das profecias que cercam seu filho recém-nascido e a sombria tradição da Purgação.

A narrativa então retorna ao ponto exato em que o primeiro livro foi finalizado com resoluções e pequenas missões aos personagens Petrus, Chikára, Sir Heimerich, Formiga, Braun e Roderick. As primeiras partes alternam entre passado e presente, enquanto o epílogo conecta de maneira instigante este volume ao próximo.


Bom, assim como A Queda de Sieghard, eu conheci a primeira versão de O Flagelo de Denerssus em meados de 2018 e, posso dizer que a nova edição está impecável - tanto no design gráfico quanto na arte da capa feita por Borisut Chamnan.

A escrita mantém o ritmo envolvente e entrega momentos intensos de ação, embora sofra uma leve desaceleração na metade da obra. No entanto, essa "pausa" funciona como prenúncio para um desfecho eletrizante, repleto de enigmas revelados, batalhas épicas e reviravoltas que deixam o destino dos protagonistas mais incerto do que nunca.

O autor surpreende ao colocar momentos chave, novos elementos fantásticos e textos que engrandecem a narrativa. O resultado? É uma leitura que equilibra emoção, tensão e mistério, encerrando-se com a sensação agridoce das vitórias e perdas dos personagens, além da certeza de que a verdadeira batalha está apenas começando.

Sendo assim, O Flagelo de Denerssus consegue mesmo em meio a brutalidade e a ruína dos eventos, uma áurea filosófica e existencialista – o que confere ao livro uma profundidade rara e tênue dentro da fantasia contemporânea.