Os Reis do Wyld

Os Reis do Wyld

Os Reis do Wyld do escritor Nicholas Eames, publicado originalmente em 2017 e lançado aqui pela Editora Tram em 2021.

O início começa com Clay Cooper que está aposentado de sua vida de guerreiro mercenário e vive tranquilamente com sua família até receber a visita de seu amigo Gabriel. Ele pede desesperadamente ajuda para encontrar sua filha que está perdida em um lugar sem chances de sobreviver. Para terem êxito nessa missão suicida, eles vão encontrando seus antigos companheiros para mais uma vez reviver seus dias de glória.

A premissa não poderia ser melhor. 

O livro traz a descontração e o humor escrachado que há tempos não existia nas obras de Fantasia épica. 

As linhas descritivas estão bem fluidas, criando desenvoltura e harmonia na leitura.

Com textos simples e sem muita enrolação, a obra traz inúmeras referências e clichês de criaturas e ambientes de Dungeons and Dragons. Não é a toa que ao lermos certos trechos, temos a sensação de estarmos numa verdadeira mesa de RPG. 

Outro ponto positivo e talvez o mais interessante são as incontáveis referências ao universo rock 'n' roll. Bandas e cantores famosos, instrumentos musicais, lugares de shows e equipamentos de palco - o livro é uma enxurrada de alusões ao rock, inseridos em lugares, sobrenome dos personagens, armas, artefatos e por aí vai.

Um diferencial bem atrativo no livro é a capa. Ela realmente mostra a descontração dos personagens principais, algo bem diferente da arte original do livro importado. Hoje eu entendo que a arte feita pelo ilustrador aAmaury Flho se mostrou necessária para manter a vibe do livro.

Enfim, Os Reis do Wyld é uma Fantasia divertidissima que consegue entreter da maneira correta e alcança o seu objetivo: não levar a Fantasia tão a sério, pois a vida já é rock 'n' roll demais.

O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego

O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego 

O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego é o terceiro livro do autor Afonso Solano e publicado pela Editora Leya em meados de 2022.

A história traz Adapak em meio a um culto fanático religioso e tentando sobreviver em meio a traições e desconfianças, enquanto isso a sua amiga Sirara traça um plano de busca ao seu paradeiro.

Bom, a história dá sequência as obras anteriores, O Espadachim de Carvão (2013) e As Pontes de Puzur (2015), com boas linhas narrativas, isso sem contar com aquela mistura sagaz de Rpg/Espada & Feitiçaria fazendo com que a obra tenha um conceito original bem característico.

Contudo, eu esperava um pouquinho mais. Talvez por estar acostumado com o ritmo frenético e aventureiro da saga, mas aqui parece que temos uma diminuição na cadência da trama. 

O livro traz regularidade e desenvolvimento dos personagens e finaliza com um bom gancho para o próximo livro.

A ingenuidade de Adapak se perpetua na trama, pois ele ainda está em meio a descobertas e reflexões, mas quando ele empunha as espadas Igi e Sumi tudo fica mais interessante. 

Adapak 

As descrições dos Círculos Tibaul continuam sendo uma das coisas mais incríveis nas lutas e, o universo de Kurgala expandiu maravilhosamente com infinidades de Leis e Deuses. 

Destaque também para as ilustrações feitas por Solano em cada capítulo (uma mais linda que a outra) e a belíssima arte da capa de Rafael Damiani.

Enfim, O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego continua sendo uma boa sequência para os fãs de Adapak poderem acompanhar, mas para mim deixou aquela sensação de que poderia ter sido muito melhor.

O Espadachim de Carvão 

Império dos Mortos - Primeiro Ato

Império dos Mortos- Primeiro Ato 

Império dos Mortos - Primeiro Ato, escrito pelo genial e saudoso George Romero (1940-2017) e arte de Alex Maleev publicado pela Editora Panini em janeiro de 2017.

A hq se baseia em um de seus roteiros e apresenta uma busca em analisar o convívio de humanos e uma classe mais inteligente de zumbis que poderiam coexistir em uma Nova York pós-apocalíptica - tudo isso liderado por vampiros corruptos.

George Romero traz, na minha opinião, uma de suas melhores histórias sobre zumbis desde O Despertar dos Mortos (1978). 

Acostumado a ilustrar Nova Iorque desde quando estava à frente de Demolidor, Maleev traz desenhos pesados, realistas e que criam um storyboard caótico para uma boa trama de terror.

O desenvolvimento dos personagens se desenrola aos poucos neste primeiro ato da história. Os jogos políticos, a convivência humana e a extrema ambientação sombria são os pontos altos da hq.

Porém, achei os argumentos um pouco confusos e confesso que me perdi nas entrelinhas dos diálogos, talvez pela tradução e revisão um pouco apressada.

Com a introdução saudosa de Stan Lee, Império dos Mortos vale a leitura por ter um ótimo roteiro e uma arte sombria de Maleev que sem dúvida atende muito bem com a brilhante imaginação de George Romero.

Grimório das Bruxas

Grimório das Bruxas 

Grimório das Bruxas - Moon Edition, da coleção MAGICAE e publicado pela Editora DarkSide 2021.

O livro traz um apanhado dos primórdios da bruxaria e das bruxas em um aspecto mais abrangente.

O historiador e professor Ronald Hutton contextualiza com muita propriedade no que diz respeito as perspectivas da bruxaria através dos tempos. A pura essência pagã vinda dos povos antigos da Mesopotâmia, assim como os egípcios, hititas e também de extensões da Oceania, Oriente e das Américas. 

Apesar de seus estudos ficarem mais direcionados a bruxaria de cunho europeu, por ter mais documentos históricos relacionados ao assunto, ele não se descuida em mostrar bruxas e a arte da feitiçaria na África Subsaariana. Explica também as denominações pagãs e os conflitos com perseguição as bruxas pela Igreja, retratada aqui como uma instituição hipócrita e preconceituosa a figura feminina. 

A leitura flui de maneira substancial em relação ao folclore e as histórias relacionadas as bruxas como nas obras de Willian Shakespeare e dos Irmãos Grimm. 

Casos históricos como Salém no século XVII são bem interessantes justamente por apresentar documentos da época, isso sem contar as boas dicas de filmes famosos e obras cult.

Não posso deixar de relatar a altíssima qualidade gráfica da obra. Capa dura, belas ilustrações e uma apresentação visual de encher os olhos. Realmente um excelente trabalho feito pela DarkSide e Macabra tv .

Grimório das Bruxas é uma leitura que irá agradar aos aficionados pelo sobrenatural e também para os leitores que querem conhecer mais sobre as origens da bruxaria e o culto ao paganismo de maneira hipnótica, histórica e interessante. 

Motoqueiro Fantasma - Libertado

Motoqueiro Fantasma - Libertado 

Com o roteiro de Benjamin Percy (Wolverine, Green Arrow, X- Force) e arte de Cory Smith e Brent Peeples (Wolverine, Conan, The Avengers, Moonknight), a hq foi publicada em junho de 2023 pela Editora Panini traz o início da nova saga de um dos personagens mais sombrios do universo Marvel.

Johnny Blaze vive bem com sua família, mas vive um drama interno com suas visões e pesadelos. Com isso, o mundo sobrenatural começa a ressurgir de forma inexplicável e o Espírito da Vingança está prestes a rodar pelas estradas sombrias e enfrentar monstros e demônios. 

Nesta hq temos o conceito básico inicial do personagem criado em 1972 por Roy Thomas e Gary Friedrich, mas em uma perspectiva e iniciativa mais dark e sobrenatural. 

Ouso dizer que a história tem uma vibe quase underground bem ao estilo da linha VERTIGO. Mesmo sendo um "início", conseguimos ficar presos a uma história que conta sobre a família, o falso sonho americano e o terror contínuo da Vingança.

Com diálogos fortes e um direcionamento narrativo mais pesado, o personagem está visualmente mais thrash e violento. Os traços mostram ação desenfreada em meio a cenas gore e criaturas bizarras.

Para quem quer conhecer o personagem e acompanhar uma nova aventura, Motoqueiro Fantasma - Libertado traz boas e novas origens em doses de adrenalina e terror. 

Hellraiser- The Dark Watch

Hellraiser- The Dark Watch

Este é The Dark Watch - Clive Barker's HELLRAISER, com os argumentos de Brandon Sifert e arte de Tom Garcia e Korku Öztrkin. A graphic novel é originalmente de 2013 e lançada por aqui em 2014 pela Astral Comics.

A trama envolve um homem solitário que está morrendo de câncer e em busca de ser salvo da morte, ele compra uma misteriosa caixa sobrenatural. Depois de resolver o quebra-cabeça, o moribundo se vê em meio a uma guerra civil em que os pecadores mais lascivos e sacerdotes infernais merecem mais atenção que o Inferno precisa.

Embora Hellraiser - The Dark Watch seja voltada para atrair novos leitores para a franquia, os fãs mais fiéis ficarão satisfeitos com o tom próximo em relação aos primeiros filmes de 1987 e 1988. Mas, para mim, a sensação que dá é que ficamos meio perdidos na história, contudo com o decorrer da leitura, ela acaba compensando.

Clive Barker e Brandon Seifert trouxeram uma narrativa quase que filosófica dos velhos temores do homem: o medo da morte, o terror do inimaginável, a busca do prazer absoluto meio ao caos, a tortura e o significado da dor.

A arte de Tom Garcia traz um realismo que incomoda com cenas de violência e cornucopia gore digna das obras cinematográficas de Hellraiser. 

Mesmo trazendo uma recriação do universo Hellraiser, The Dark Watch consegue entreter e traz um ótimo complemento para os leitores de Renascido do Inferno e Evangelho de Sangue.

Hellraiser - The Dark Watch 

O Chamado de Cthulhu e Outros Contos

O Chamado de Cthulhu e Outros Contos de H. P. Lovecraft, publicado pela editora Livros Principis em 2019.

O livro traz o conto mais influente de todos os tempos da literatura de terror e horror cósmico - O Chamado de Cthulhu, escrito originalmente em 1926 e publicado pela primeira vez na revista estadunidense Weird Tales em fevereiro de 1928.

Além desse clássico, traz mais oito contos não menos importantes: Dagon, A Música de Erich Zann, O Horror de Dunwich, A Sombra Fora do Tempo, Os Ratos nas Paredes, Os Gatos de Ulthar e A Cor que Caiu do Espaço. 

A escrita de Lovecraft é assustadora e em algumas partes truncada e ora outra confusa propositalmente, mas é recheada de nictofobia e claustrofobia. É justo em dizer que, ele traz a capacidade de transmitir sentimentos obscuros do irreal em, argumentos indubitávelmente carregados de loucura mística. 

Entretanto, o ponto negativo de suas obras é o seu profundo e expressivo rac7smo e uma furiosa x3nofobia. 

Lovecraft falha miseravelmente colocando em seus contos a sua aversão aos negros e a povos orientais como árabes e judeus.

Nos dias de hoje, o universo lovecraftiano se tornou mais rico e interessante graças a diversidade que outros autores atuais tendem a colocar em suas obras. Essa liberdade artística deve ser incentivada e estimulada neste emaranhado mundo de Cthulhu e de outras criaturas abissais. 

Para mim é gratificante ver boas adaptações de Lovecraft com protagonistas negros como A Balada de Black Tom de Victor Lavalle ou da série HBO Lovecraft Country. 

Espero sinceramente que o que resta do cadáver de H. P. Lovecraft esteja se revirando de fúria no túmulo. 

Enfim, O Chamado do Cthulhu e Outros Contos vale a leitura para conhecer a gênesis do horror cósmico, ter discernimento e um olhar mais crítico a esta obra.