sábado, 18 de outubro de 2025

The Serpent's Bargain - Warhammer Age of Sigmar

The Serpent's Bargain 

Considerando o vasto e brutal cenário de Warhammer 40K, um universo de sangue e aço dominado pelos bolters dos Space Marines, minha curiosidade se voltou para as terras míticas dos Reinos Mortais de Age of Sigmar e, em particular, pela trama densa de The Serpent's Bargain, escrita pela autora Jamie Crisalli.

O conto foi publicado originalmente na antologia Inferno! Volume 4 - Tales from the Worlds of Warhammer da editora Black Library em 2019. 

A história apresenta Laila, uma camponesa da humilde vila de Varna no reino de Ghyran. ​Quando a aldeia começa a ser devastada pelos corruptores de Nurgle e Slaanesh (Deuses do Caos), Laila decide não se render. Com os anciãos passivos e os guerreiros ausentes, ela se une ao seu velho amigo Stefen e ao enigmático soldado Ano para buscar a única esperança restante - os Faire Ones, seres lendários que detestam o Caos.


Então, é uma leitura simples e envolvente. Gostei bastante de pontos importantes que contribuem para a história como a atitude e o carisma da protagonista. 

Os conceitos do universo de Age of Sigmar (a vertente de Warhammer à qual pertence a história) são geralmente apresentados e explicados de maneira orgânica na narrativa, através dos olhos dos personagens. Crisalli insere o leitor nos perigos dos Reinos Mortais por meio da perspectiva de Laila que também está descobrindo esses perigos.

Sem entrar em spoilers mais pesados, The Serpent's Bargain cumpre com maestria o título da obra: o pacto serpentino, o acordo impossível entre a salvação e a ruína. A "barganha" feita por Laila se revela como um espelho da condição humana diante do divino. 

O desfecho é melancólico e inevitável. Talvez mais trágico que épico e é justamente isso que o conto torna a leitura memorável. Até mesmo porque no universo Warhammer não há milagre sem dor e nem salvação sem custo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte (Vol. I)

Hammerfall  - Crônicas de um Guerreiro do Norte 

Do autor e tatuador Hewerton Kavera, trago aqui a leitura finalizada de Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte, publicado de forma independente em 2025.

Neste primeiro volume, somos apresentados a Erik Hammerfall, um guerreiro moldado pela guerra e pela solidão do Norte gelado e implacável. Em oito contos temos várias aventuras de luta, magia e seres fantásticos, onde o universo frio e cruel se torna um terreno fértil para a ascensão e ruína de heróis.


Bom, o livro superou todas as minhas expectativas. A narrativa surpreende por sua variação, mesmo sendo uma coletânea de contos focados em um único personagem. Ele pode ser um errante brutal e em outro, um defensor de causas perdidas. Esta adaptação permite que a trama construa o perfil de Hammerfall de forma multifacetada, revelando sua astúcia, brutalidade e, por vezes, seu lado mais introspectivo e melancólico.

Cada conto apresenta um novo desafio para o protagonista, desde confrontos viscerais em calabouços escuros a embates com criaturas lovecraftianas. Uma das coisas que mais me agradou no livro foram os trechos mais poéticos como "O Vale" e "Valquíria" que, na minha opinião, ficou incrível e trouxe uma áurea mais "Edda" mesmo com influências pulp.

A arte gráfica se destaca de maneira notável. Embora eu tenha notado certas referências ao poderoso estilo Death Dealer de Frank Frazetta, Kavera traz uma dose de talento e originalidade em traços e uma visão singular do nórdico.

No geral, Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte - vol. I é uma estreia promissora que indica que o autor possui um potencial significativo pela frente. 

Mal posso esperar para ver o que ele fará a seguir e, sem dúvida, é um bom começo!

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Pathfinder Tales - A Bruxa Invernal

Pathfinder Tales - Bruxa Invernal 

Trazendo aqui A Bruxa Invernal da série Pathfinder Tales, publicado originalmente em 2010 e lançado no Brasil pela Editora New Order em 2023. 

A história acompanha Ellasif, uma guerreira bárbara e o jovem Declan Avari, um cartógrafo que unem forças para uma missão de resgate em que enfrentarão a fúria de monstros, guerreiros e muita magia.

A autora Elaine Cunningham, conhecida por seus trabalhos em Elfshadow, Evermeet e outros mundos de Forgotten Realms, traz uma aventura mais sombria e visceral, ambientada nos reinos do norte de Golarion, universo de Pathfinder. Ela criou um worldbuilding fascinante que explora a atmosfera glacial como um motor dramático que dita decisões e jornadas. 

Para os fãs do rpg Pathfinder, trata-se de uma leitura quase obrigatória. O cenário ganha textura e as lendas se materializam com ótimas idéias e oportunidades para desenvolver uma boa campanha de mesa. Para os leitores de fantasia em geral, é recomendável como uma história de aventura bem construída e com os típicos clichês do gênero fantasia: batalhas intensas e diversas criaturas épicas de tirar o fôlego.

Meu ponto positivo em relação a edição da New Order é o formato de bolso (estilo pocket book ou paperback) - muito mais prático, fácil de manusear e ler.  Já a tradução de Joyce Dantas está impecável por manter a fluidez do texto original e a revisão de Bernardo Stamatto (autor da saga A Era do Abismo) garantiu consistência na terminologia própria do cenário. 

Eu também espero que a editora traga mais livros de Pathfinder Tales, principalmente com os trabalhos dos autores Dave Gross (Lord of Runes/Master of Devils) e Howard Andrew Jones (Plague of Shadows).

Enfim, A Bruxa Invernal é um livro de fantasia que cumpre sua proposta: oferece uma aventura envolvente e que entretém na medida certa. Não é uma obra que rompe padrões narrativos, nem pretende inovar ou reinventar o gênero, mas consegue agregar e ter inspirações para uma leitura boa e divertida.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

A Bandeira do Elefante e da Arara

A Bandeira do Elefante e da Arara 


Trazendo aqui A Bandeira do Elefante e da Arara, de Christopher Kastensmidt, publicado pela Editora Avec em 2025, onde traz onze novelas em que a voz narrativa busca misturar o épico e o folclórico. 

A obra privilegia a construção e as referências folclóricas ao imaginário brasileiro e isso é seu maior acerto, pois o livro não se apresenta como uma fantasia distante, mas como uma aventura que nasce de nossas próprias raízes.

A sensação inicial é a de que o RPG aqui não apenas convida a rolar dados, mas a caminhar pela cultura nacional, onde mitos e personagens se tornam companheiros de jornada. 

O enredo tem ares de um epopeia antológica, mas também guarda certa leveza na narrativa que faz com que o leitor sinta-se parte da descoberta — um explorador curioso diante de um território mágico. Destaque? Adorei as onze histórias mas, "A ameaçante aparição da Mula sem Cabeça" e "O catastrófico final das façanhas brasileiras de Gerard e Oludara" são os meus preferidos. 

A escolha de um protagonista estrangeiro como Gerard Van Oosy permite que tanto o autor quanto o leitor abordem o Brasil com um olhar de descoberta e fascínio, sem o peso de uma perspectiva nativa já integrada ao cenário. 

Recomendo demais a nova edição de A Bandeira do Elefante e da Arara que brilha como peça de criação de universo — é inspiradora, sensorial e ideal para quem quer transpor o folclore e a história brasileira para os jogos de mesa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Crônicas de Dragonlance - Dragões do Alvorecer da Primavera

Dragões do Alvorecer da Primavera 

A primavera se anuncia como a estação do renascimento. É quando a rigidez do inverno se dissolve e cede espaço ao despertar da renovação.

Em Crônicas de Dragonlance – Dragões do Alvorecer da Primavera (1985) esse mesmo movimento se repete. O título já carrega a idéia de recomeço: um “alvorecer” que não pertence apenas à natureza, mas ao próprio espírito de Krynn, em sua luta contra as forças dracônicas de Takhisis. Após o inverno da guerra, os companheiros de Solace avançam em direção ao incerto, guiados por coragem, amizade e pelo vislumbre de esperança que insiste em não se perder de vista.

Tanis e Laurana se veem diante de escolhas que moldam destinos; Raistlin carrega sua ambição como uma chama frágil, pronta a crescer ou se apagar; Caramon, Flint e Tasslehoff lembram que o riso e a lealdade podem ser o alicerce até mesmo nas batalhas mais sombrias. 

Assim como a primavera rompe o silêncio do inverno, esses heróis se erguem contra a escuridão, lembrando-nos que a vida sempre encontra um caminho para renascer.

Em Dragões do Alvorecer da Primavera, Margaret Weis e Tracy Hickman trouxeram para a narrativa um canto de resistência. É um lembrete de que por mais densas sejam as trevas, sempre haverá auroras de glória — e nelas, a promessa única de esperança, renovação e fé.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Crônicas Dilapidadas

Crônicas Dilapidadas 

Impressões de leitura – Crônicas Dilapidadas 

Leitura beta finalizada de Crônicas Dilapidadas e a sensação é de ter viajado por um universo riquíssimo, onde mitologia tupi-guarani, sertão e fantasia épica se entrelaçam com deuses, criaturas do folclore e reinos distantes. 

Os personagens — Kael, Makuna, Holdran, Brumael — são carismáticos e conduzem bem a jornada contra Faeer-wa, a entidade ancestral que ameaça o mundo de Palmas.

A estrutura a narrativa em capítulos lembra um pouco o estilo de As Crônicas de Gelo e Fogo. O resultado é um ritmo variado que alterna batalhas intensas junto com diálogos e momentos de reflexão mitológica. Um dos pontos altos é o worldbuilding, capaz de unir cosmologia indígena e criaturas do folclore como Curupira e Teju Jagua.

O autor Leandro Sarnik mistura registros, expressões populares e ditos nordestinos que convivem com passagens de tom épico e poético. Destaque também para a arte belíssima da capa feita pelo ilustrador Gustavo Garcez

Tematicamente, a obra se ancora na ancestralidade, resistência cultural, preservação ambiental, a tensão entre divino e humano e ao uso predatório da tecnologia. Esses elementos emergem de forma natural, reforçando a potência crítica do texto.

Enfim, Crônicas Dilapidadas é uma fantasia promissora que alia criatividade, identidade cultural e uma ambição narrativa. Com alguns ajustes na revisão obviamente, a obra tem tudo para agradar os fãs de literatura fantástica. 

Entaão vamos aguardar por esse futuro lançamento, pois com certeza será algo bem diferente e interessante. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Maretenebrae: O Flagelo de Denerssus

Maretenebrae 2 - O Flagelo de Dernessus 

Publicado pela Avec Editora em 2024 e escrita por L.P. Faustini - este segundo volume amplia o universo iniciado em A Queda de Sieghard e mergulha ainda mais fundo na intrincada trama de poder, profecias e sacrifícios.

O início transporta o leitor ao passado, revelando o drama de Marcus II diante das profecias que cercam seu filho recém-nascido e a sombria tradição da Purgação.

A narrativa então retorna ao ponto exato em que o primeiro livro foi finalizado com resoluções e pequenas missões aos personagens Petrus, Chikára, Sir Heimerich, Formiga, Braun e Roderick. As primeiras partes alternam entre passado e presente, enquanto o epílogo conecta de maneira instigante este volume ao próximo.


Bom, assim como A Queda de Sieghard, eu conheci a primeira versão de O Flagelo de Denerssus em meados de 2018 e, posso dizer que a nova edição está impecável - tanto no design gráfico quanto na arte da capa feita por Borisut Chamnan.

A escrita mantém o ritmo envolvente e entrega momentos intensos de ação, embora sofra uma leve desaceleração na metade da obra. No entanto, essa "pausa" funciona como prenúncio para um desfecho eletrizante, repleto de enigmas revelados, batalhas épicas e reviravoltas que deixam o destino dos protagonistas mais incerto do que nunca.

O autor surpreende ao colocar momentos chave, novos elementos fantásticos e textos que engrandecem a narrativa. O resultado? É uma leitura que equilibra emoção, tensão e mistério, encerrando-se com a sensação agridoce das vitórias e perdas dos personagens, além da certeza de que a verdadeira batalha está apenas começando.

Sendo assim, O Flagelo de Denerssus consegue mesmo em meio a brutalidade e a ruína dos eventos, uma áurea filosófica e existencialista – o que confere ao livro uma profundidade rara e tênue dentro da fantasia contemporânea.