domingo, 26 de outubro de 2025

The Sellswords Trilogy

The Sellswords 

A Trilogia ThSellswords s é, para mim, uma das obras mais ousadas de R. A. Salvatore. 

Ela desconstrói o maniqueísmo do universo Forgotten Realms ao transformar "vilões" em protagonistas complexos e terrivelmente humanos. Além disso, autor equilibra muito bem combates eletrizantes e uma filosofia moral com rara destreza.

Jarlaxle e Entreri são espelhos distorcidos de Drizzt Do’Urden. Enquanto um luta para ser bom em um mundo cruel, eles aceitam o caos e procuram sentido dentro dele. 

Essa ambiguidade ética é o que eleva The Sellswords estar acima da média de uma simples trilogia de Fantasia. É uma reflexão sobre poder, solidão e a busca por identidade quando a redenção ainda não é possível.

Uma leitura essencial para quem aprecia Forgotten Realms e uma Fantasia bem old school.


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A Queda de Hance Kotton

A Queda de Hance Kotton 

Publicado em 2023 e escrito pela autora D. Hoff, o livro traz uma narrativa que mergulha fundo em elementos de brutalidade, delineando a decadência moral e a inevitabilidade da ruína. 

A história acompanha Hance Kotton, um guerreiro que já foi um general em batalhas contra hordas bárbaras, mas que ao longo da trama vai se despindo de sua aura heróica para revelar sua verdadeira essência marcada pelo ego e pela incapacidade de reconhecer seus próprios limites.

Desde as primeiras páginas, a autora deixa claro que não está interessada em confortar o leitor. A queda do protagonista não é apenas física ou política, mas sobretudo espiritual, um mergulho em camadas cada vez mais sombrias de sua própria alma.

O estilo de D. Hoff alterna entre descrições densas e diálogos diretos. Ela sabe construir atmosferas opressivas: os cenários são fétidos, pútridos e cheios de presságios, lembrando às vezes as ambientações de A Companhia Negra de Glen Cook e também A Primeira Lei de Joe Abercrombie.

Gostei muito da atmosfera opressiva do universo de Trakar. A complexidade psicológica do protagonista, a narrativa textual de diversos personagens e as bizarras hordas Bhaks, fazem com que a obra consiga dialogar com o gênero Dark Fantasy sem parecer mera cópia.

A Queda de Hance Kotton é uma obra brutal, sem concessões e profundamente trágica. O livro não oferece tranquilidade ao leitor, apenas a experiência ácida de um homem amargurado, sarcástico e monstruoso. Para quem aprecia narrativas sombrias e densas, é uma leitura que ecoa na mente muito depois da última página.

sábado, 18 de outubro de 2025

The Serpent's Bargain - Warhammer Age of Sigmar

The Serpent's Bargain 

Considerando o vasto e brutal cenário de Warhammer 40K, um universo de sangue e aço dominado pelos bolters dos Space Marines, minha curiosidade se voltou para as terras míticas dos Reinos Mortais de Age of Sigmar e, em particular, pela trama densa de The Serpent's Bargain, escrita pela autora Jamie Crisalli.

O conto foi publicado originalmente na antologia Inferno! Volume 4 - Tales from the Worlds of Warhammer da editora Black Library em 2019. 

A história apresenta Laila, uma camponesa da humilde vila de Varna no reino de Ghyran. ​Quando a aldeia começa a ser devastada pelos corruptores de Nurgle e Slaanesh (Deuses do Caos), Laila decide não se render. Com os anciãos passivos e os guerreiros ausentes, ela se une ao seu velho amigo Stefen e ao enigmático soldado Ano para buscar a única esperança restante - os Faire Ones, seres lendários que detestam o Caos.


Então, é uma leitura simples e envolvente. Gostei bastante de pontos importantes que contribuem para a história como a atitude e o carisma da protagonista. 

Os conceitos do universo de Age of Sigmar (a vertente de Warhammer à qual pertence a história) são geralmente apresentados e explicados de maneira orgânica na narrativa, através dos olhos dos personagens. Crisalli insere o leitor nos perigos dos Reinos Mortais por meio da perspectiva de Laila que também está descobrindo esses perigos.

Sem entrar em spoilers mais pesados, The Serpent's Bargain cumpre com maestria o título da obra: o pacto serpentino, o acordo impossível entre a salvação e a ruína. A "barganha" feita por Laila se revela como um espelho da condição humana diante do divino. 

O desfecho é melancólico e inevitável. Talvez mais trágico que épico e é justamente isso que o conto torna a leitura memorável. Até mesmo porque no universo Warhammer não há milagre sem dor e nem salvação sem custo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte (Vol. I)

Hammerfall  - Crônicas de um Guerreiro do Norte 

Do autor e tatuador Hewerton Kavera, trago aqui a leitura finalizada de Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte, publicado de forma independente em 2025.

Neste primeiro volume, somos apresentados a Erik Hammerfall, um guerreiro moldado pela guerra e pela solidão do Norte gelado e implacável. Em oito contos temos várias aventuras de luta, magia e seres fantásticos, onde o universo frio e cruel se torna um terreno fértil para a ascensão e ruína de heróis.


Bom, o livro superou todas as minhas expectativas. A narrativa surpreende por sua variação, mesmo sendo uma coletânea de contos focados em um único personagem. Ele pode ser um errante brutal e em outro, um defensor de causas perdidas. Esta adaptação permite que a trama construa o perfil de Hammerfall de forma multifacetada, revelando sua astúcia, brutalidade e, por vezes, seu lado mais introspectivo e melancólico.

Cada conto apresenta um novo desafio para o protagonista, desde confrontos viscerais em calabouços escuros a embates com criaturas lovecraftianas. Uma das coisas que mais me agradou no livro foram os trechos mais poéticos como "O Vale" e "Valquíria" que, na minha opinião, ficou incrível e trouxe uma áurea mais "Edda" mesmo com influências pulp.

A arte gráfica se destaca de maneira notável. Embora eu tenha notado certas referências ao poderoso estilo Death Dealer de Frank Frazetta, Kavera traz uma dose de talento e originalidade em traços e uma visão singular do nórdico.

No geral, Hammerfall: Crônicas de um Guerreiro do Norte - vol. I é uma estreia promissora que indica que o autor possui um potencial significativo pela frente. 

Mal posso esperar para ver o que ele fará a seguir e, sem dúvida, é um bom começo!

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Pathfinder Tales - A Bruxa Invernal

Pathfinder Tales - Bruxa Invernal 

Trazendo aqui A Bruxa Invernal da série Pathfinder Tales, publicado originalmente em 2010 e lançado no Brasil pela Editora New Order em 2023. 

A história acompanha Ellasif, uma guerreira bárbara e o jovem Declan Avari, um cartógrafo que unem forças para uma missão de resgate em que enfrentarão a fúria de monstros, guerreiros e muita magia.

A autora Elaine Cunningham, conhecida por seus trabalhos em Elfshadow, Evermeet e outros mundos de Forgotten Realms, traz uma aventura mais sombria e visceral, ambientada nos reinos do norte de Golarion, universo de Pathfinder. Ela criou um worldbuilding fascinante que explora a atmosfera glacial como um motor dramático que dita decisões e jornadas. 

Para os fãs do rpg Pathfinder, trata-se de uma leitura quase obrigatória. O cenário ganha textura e as lendas se materializam com ótimas idéias e oportunidades para desenvolver uma boa campanha de mesa. Para os leitores de fantasia em geral, é recomendável como uma história de aventura bem construída e com os típicos clichês do gênero fantasia: batalhas intensas e diversas criaturas épicas de tirar o fôlego.

Meu ponto positivo em relação a edição da New Order é o formato de bolso (estilo pocket book ou paperback) - muito mais prático, fácil de manusear e ler.  Já a tradução de Joyce Dantas está impecável por manter a fluidez do texto original e a revisão de Bernardo Stamatto (autor da saga A Era do Abismo) garantiu consistência na terminologia própria do cenário. 

Eu também espero que a editora traga mais livros de Pathfinder Tales, principalmente com os trabalhos dos autores Dave Gross (Lord of Runes/Master of Devils) e Howard Andrew Jones (Plague of Shadows).

Enfim, A Bruxa Invernal é um livro de fantasia que cumpre sua proposta: oferece uma aventura envolvente e que entretém na medida certa. Não é uma obra que rompe padrões narrativos, nem pretende inovar ou reinventar o gênero, mas consegue agregar e ter inspirações para uma leitura boa e divertida.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

A Bandeira do Elefante e da Arara

A Bandeira do Elefante e da Arara 


Trazendo aqui A Bandeira do Elefante e da Arara, de Christopher Kastensmidt, publicado pela Editora Avec em 2025, onde traz onze novelas em que a voz narrativa busca misturar o épico e o folclórico. 

A obra privilegia a construção e as referências folclóricas ao imaginário brasileiro e isso é seu maior acerto, pois o livro não se apresenta como uma fantasia distante, mas como uma aventura que nasce de nossas próprias raízes.

A sensação inicial é a de que o RPG aqui não apenas convida a rolar dados, mas a caminhar pela cultura nacional, onde mitos e personagens se tornam companheiros de jornada. 

O enredo tem ares de um epopeia antológica, mas também guarda certa leveza na narrativa que faz com que o leitor sinta-se parte da descoberta — um explorador curioso diante de um território mágico. Destaque? Adorei as onze histórias mas, "A ameaçante aparição da Mula sem Cabeça" e "O catastrófico final das façanhas brasileiras de Gerard e Oludara" são os meus preferidos. 

A escolha de um protagonista estrangeiro como Gerard Van Oosy permite que tanto o autor quanto o leitor abordem o Brasil com um olhar de descoberta e fascínio, sem o peso de uma perspectiva nativa já integrada ao cenário. 

Recomendo demais a nova edição de A Bandeira do Elefante e da Arara que brilha como peça de criação de universo — é inspiradora, sensorial e ideal para quem quer transpor o folclore e a história brasileira para os jogos de mesa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Crônicas de Dragonlance - Dragões do Alvorecer da Primavera

Dragões do Alvorecer da Primavera 

A primavera se anuncia como a estação do renascimento. É quando a rigidez do inverno se dissolve e cede espaço ao despertar da renovação.

Em Crônicas de Dragonlance – Dragões do Alvorecer da Primavera (1985) esse mesmo movimento se repete. O título já carrega a idéia de recomeço: um “alvorecer” que não pertence apenas à natureza, mas ao próprio espírito de Krynn, em sua luta contra as forças dracônicas de Takhisis. Após o inverno da guerra, os companheiros de Solace avançam em direção ao incerto, guiados por coragem, amizade e pelo vislumbre de esperança que insiste em não se perder de vista.

Tanis e Laurana se veem diante de escolhas que moldam destinos; Raistlin carrega sua ambição como uma chama frágil, pronta a crescer ou se apagar; Caramon, Flint e Tasslehoff lembram que o riso e a lealdade podem ser o alicerce até mesmo nas batalhas mais sombrias. 

Assim como a primavera rompe o silêncio do inverno, esses heróis se erguem contra a escuridão, lembrando-nos que a vida sempre encontra um caminho para renascer.

Em Dragões do Alvorecer da Primavera, Margaret Weis e Tracy Hickman trouxeram para a narrativa um canto de resistência. É um lembrete de que por mais densas sejam as trevas, sempre haverá auroras de glória — e nelas, a promessa única de esperança, renovação e fé.