|
A Queda de Artur |
Publicado originalmente em 2013, A Queda de Artur, é a única incursão de Tolkien nas lendas do rei Artur.
Aqui ele narra de maneira aliterante a expedição do grande rei a longínquas terras selvagens, a fuga de Guinevere de Camelot, a grande batalha naval na volta de Artur à Grã-Bretanha, a descrição do traidor Mordred e as dúvidas que atormentavam Lancelot em seu castelo francês.
Os cavaleiros da Távola Redonda também aparecem em meio a campanha de Artur contra os romanos como Gawain, Gareth, Gaheris, Bedivere e Bors.
O livro mostra além do prefácio, notas sobre o texto, o poema na tradição arturiana, o poema não escrito e sua relação entrelaçada com O Silmarillion (sobre Tol Eressëa e Númenor), a sua evolução e finaliza com o Apêndice relacionando a poesia em inglês antigo e seus arcaísmos.
Bom, esta edição dá uma ótima visão da maestria linguística de Tolkien.
Composto em versos aliterantes, comuns na tradição germânica - anglo-saxã, nórdica - o poema possui ares épicos, heróicos e mesmo estando inacabado, traz a beleza típica da escrita métrica e antiga.
Para os iniciados pode-se achar estranho e extremamente difícil acompanhar a leitura do poema. Até porque é uma escrita aliterante que possui um vocábulo pouco peculiar, onde originalmente (na Idade Média) eram declamados, não escritos, pelos menestréis e bardos. Eles usavam esses recursos fonéticos para ligar os versos entre si e proporcionar um sentido de continuidade aos ouvintes.
E o resultado final é que Tolkien criou (mesmo incompleto) um poema lendário e histórico.
Vale destacar a luta de Christopher Tolkien, que nesta presente obra foi editor do texto e que teve um árduo trabalho de reunir fragmentos (entre pedaços de papéis e rascunhos quase inteligíveis) que seu pai deixou e trouxe uma edição mais enxuta e acessível, principalmente para os leitores habituados na mitologia da Terra-Média.
A versão da publicação brasileira – traz uma edição bilíngue com a tradução perfeita do incrível Ronald Kyrmse – e a versão original.
Mas é recomendável a leitura? Sim.
Mesmo para aqueles que são fãs de O Hobbit e O Senhor dos Anéis e que não estão acostumados com o estilo aliterante do poema, a obra vale (e muito) pela genialidade de Tolkien e beleza quase mágica da poesia arturiana.
"Destarte fica Artur montado na baixamar.
Contempla sua terra e triste anseia
por rever outra vez a verde grama,
andando à vontade quanto dure o mundo;
pra que sinta o sal, o seu aroma
com perfume de vinho, vento de trevo
que germina junto ao mar em gramado de sol,
escutar da cristandade os badalos agudos
de sinos que oscilam aprazíveis na brisa,
um príncipe de paz que impera e reina
ao pé da porta aberta do Paraíso."